Geórgia. Manifestantes bloqueiam acesso a maior porto do país

por Graça Andrade Ramos - RTP
Protestos anti-governamentais e pró-europeus em Tbilissi, Goergia, 2024 Irakli Gedenidze - Reuters

Os protestos anti-governo na Geórgia bloquearam pelo menos uma das entradas para Poti, no Mar Negro, o maior porto comercial do país, reportou a agência de notícias Interpress. No braço de ferro político, o governo rejeitou a realização de novas eleições legislativas.

Imagens mostraram os manifestantes a bloquear uma estrada de acesso, sendo impossível perceber de imediato se o protesto impede completamente as entradas e saídas do porto.
O porto de Poti é propriedade e operado pela empresa holandesa APM Terminals, pertencente ao grupo de Transporte Marítimo Maersk. É o maior porto da Georgia, passando por ali 80 por cento do movimento alfandegário de bens do país.
Desde quinta-feira que os protestos não param na Geórgia, contra a suspensão por quatro anos das negociações de adesão à União Europeia, anunciada pelo Governo, eleito mas contestado. 

Já foram detidas mais de 100 pessoas, com a polícia duramente envolvida na repressão das manifestações.

Este domingo, apesar das manifestações e da grave crise política, o primeiro-ministro Irakli Kobakhidzé, acusado de deriva pró-russa, afastou a possibilidade de repetição das eleições legislativas.

Questionado sobre se esta irá ter lugar, Kobakhidzé foi perentório. "Claro que não", respondeu aos jornalistas.

É um desafio à presidente Salomé Zourabichvili e a toda a oposição.

Zourabichvili rejeitou no sábado abandonar o cargo, como previsto no início de 2025, exigindo em vez disso a repetição das eleições de 26 de outubro. O escrutínio foi vencido com quase 54 por cento dos votos pelo partido Sonho da Geórgia, que pretende suspender as negociações de adesão à União Europeia.

A oposição, pró-europeia, e os manifestantes, entendem que as eleições foram fraudulentas e têm boicotado o Parlamento desta ex-República Soviética, que Moscovo não quer deixar fugir para a Europa.

Irakli Kobakhidzé acusa as forças da oposição pró-União Europeia de planearem uma revolução.
Porta da UE continua "aberta"
A presidente da Comissão Europeia deixou entretanto a porta "aberta" à Geórgia para retomar o caminho rumo à União Europeia, lamentando a decisão do atual Governo pró-russo das negociações de adesão ao bloco até 2028.

"Lamentamos que a liderança georgiana se tenha afastado da União Europeia e dos seus valores. A UE apoia o povo da Geórgia e a sua escolha de um futuro europeu. A porta da UE continua aberta. O regresso da Geórgia ao caminho da UE está nas mãos da liderança georgiana", afirmou Ursula von der Leyen numa mensagem nas redes sociais.

A nova alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, e a comissária europeia para o Alargamento, Marta Kos, expressaram o mesmo sentimento numa declaração conjunta publicada em Bruxelas.

"A porta da UE continua aberta, e o regresso da Geórgia aos valores europeus e o caminho para a adesão à UE estão nas mãos da liderança georgiana", sublinharam ainda Kallas e Kos, que se deslocaram hoje a Kiev para reafirmar o apoio da UE à Ucrânia, juntamente com o novo presidente do Conselho Europeu, António Costa.

Lamentando a decisão de Kobajidze de "não avançar com a abertura das negociações de adesão à UE e de recusar o apoio financeiro da UE até 2028", Kallas e Kos observaram que a decisão "representa um afastamento das políticas de todos os anteriores governos georgianos e das aspirações europeias da grande maioria do povo georgiano, consagradas na Constituição da Geórgia".

As manifestações contra o governo eleito têm mergulhado no caos a capital do país, Tbilissi, e outras cidades, sendo temporariamente dispersas à custa de canhões de água e gás lacrimogéneo.

A polícia já interpelou mais de 150 pessoas e dezenas de agentes ficaram feridos por projéteis e petardos lançados pelos manifestantes.

com agências
PUB